Vale-tudo da audiência
Ana Maria TelesJá dizia o nosso saudoso Chacrinha “nada se cria, tudo se copia”. Esta é uma das frases mais verdadeiras que já encontrei e, em se tratando do setor midiático, a comprovação é ainda mais enfática. Basta parar por algumas horas em frente a TV, por exemplo, e observar o quanto de conteúdo igual iremos ver.
Diante da imensa oferta e da semelhança, tem início a briga pela audiência. Os veículos de comunicação travam uma verdadeira batalha para prender, por mais tempo, a atenção do telespectador e assegurar-se de que o conteúdo que apresenta, renderá pontinhos no Ibope.
Cada um luta com as “armas” que tem e fazem suas apostas no gênero jornalístico, estilo de novelas, estabelece que perfil de público vai atingir. Um tipo de programa que surgiu nos anos 90 e vem crescendo desde então, são os programas sensacionalistas, classificado por muitos, como um sensacionalismo barato e apelativo.
A emoção é o ponto chave. Apelar para os sentimentos, trazer o telespectador para o mais próximo da história possível. Contar todos os detalhes, cobertura em tempo real, lágrimas, sofrimento, dor, desconfiança. “Saiba quem é o pai de fulano!” “Veja se o marido está mentindo”. “Saiba tudo o que aconteceu neste caso”, são alguns dos chamados utilizados.
Maquiavel já dizia que os fins justificam os meios. Não é bem assim. Não vale tudo para conquistar a audiência. Não se pode transformar em circo uma tragédia familiar. A notícia não pode virar espetáculo e a vida real é muito mais dura de se encarar. Acompanhar um seqüestro durante dias, não acrescentará nada à vida de ninguém. Pelo contrário vai expor ainda mais a família e os envolvidos.
A informação é para servir ao público. Acrescentar conhecimento, possibilitar novas visões e não, deixar as pessoas aterrorizadas e mais pessimistas do que já são. A vida não é um circo e, muito menos, uma tragédia deve passar por essa transformação. A responsabilidade de um jornalista é muito maior do que simplesmente retransmitir algo. É apurar todos os dados, contribuir para o que for necessário, se isentar de opiniões, exercendo sua profissão com credibilidade e dignidade.
A sociedade confia que recebe informações verdadeiras e não histórias construídas e arquitetadas no vale-tudo da audiência.
Mais do mesmo
Priscila Borges8º período de Jornalismo
Que o cinismo e a ambição humana estão presentes na maioria das redações dos grandes jornais não é segredo pra ninguém que conheça um pouco dos bastidores do jornalismo. Mas que estes defeitos possam manipular tanto as notícias, talvez seja. É este o viés do clássico A montanha dos Sete Abutres, de 1950, dirigido por Billy Wilder.
Os quase 60 anos que separam o filme de nossa época parecem aproximá-lo da realidade atual em vez de afastá-lo. No enredo, Charles Tatum (interpretado pelo ainda charmoso Kirk Douglas) é um repórter que depois de perder diversos empregos em jornais grandes decide tentar a sorte em um jornal interiorano. Seus planos são conseguir um furo de reportagem no local e voltar à grande imprensa.
Porém, Tatum fica no jornal durante um ano sem que apareça a notícia que irá tirá-lo do ostracismo. Até que o soterramento de Leo Minosa em uma caverna suportamente amaldiçoada se transforma na pauta da vez. A ambição de Tatum o leva a prolongar o soterramento, o que termina com a morte de Leo. Além disso, ele corrompe a esposa de Minosa e o xerife, oferecendo “benefícios” que a cobertura do fato pode proporcionar: glamour, poder e dinheiro.
Fica evidente que a situação, infelizmente, não mudou nada ou até piorou. Casos como o da morte da jovem Eloá, que demorou dias para ser resgatada ou a cobertura da morte de Isabela Nardoni evidenciam o quanto alguns profissionais da grande imprensa deixam de lado a criticidade em nome da autopromoção. Em ambos os casos, era evidente que a agilidade da polícia poderia ter sido peça-chave para que a situação fosse resolvida. Mas qual jornalista ousaria desafiar o correr do tempo e deixar de ter, dia após dia, uma novidade (muitas vezes até fútil), a respeito do caso?
A mercadoria-notícia, já denunciada por Guy Debord em 1960, parece ser o produto de venda mais fácil e volátil da sociedade moderna. Para ampliar a discussão , mesmo diante do vazio dos fatos, jornalistas não se cansam de manipular situações, comprar fontes, inventar boatos. A impressão que fica é que a grande mídia (com seus incontáveis jornais, TV´s, revistas, sites) é um grande monstro que nunca fica de barriga cheia. E que se alimenta, principalmente, de sangue e de lágrimas.
Diante da avalanche de informação, que deixa a maioria das pessoas perdidas e cada vez mais desinformadas, em um paradoxo aparentemente inexplicável, como agir? Certo é que não há necessidade alguma de tantas notícias tão vazias e tão pobres em aprofundamento do que realmente interessa: a busca da justiça e de soluções dentro da sociedade.
Não se trata de derrubar por terra a pluralidade de fontes, de mídias ou de notícias. Trata-se de enxergar finalmente que essa pluralidade não existe. Mesmo diante de tantos recursos tecnológicos e de tantas possibilidades de ampliação de públicos, a grande mídia continua produzindo produtos iguais e fracos, que não acrescentam nada além do seu próprio vazio ao espaço público.
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A montanha dos sete abutres: uma cobertura mais que sensacionalista Marielly Silva Martins O filme “A montanha dos sete abutres” representa muito bem o que o jornalismo pode fazer com a vida das pessoas. Assim como pode ajudar a solucionar problemas, pode piorar a situação, como no caso de Tatum.
Quando Tatum vai trabalhar no jornal de Albuquerque, que é uma cidade pequena, percebe-se como ele está infeliz, já que foi jornalista nos maiores veículos de comunicação de Nova York. A maioria dos jornalistas que se formam hoje em dia também procuram um lugar de destaque em um jornal reconhecido. Tatum esperava ficar ali por pouco tempo, mas não conseguiu encontrar coisa melhor.
O jornal de Albuquerque representa tudo o que aprendemos na teoria como jornalistas: “dizer sempre a verdade”. O jornal é como os meios de comunicação de cidades pequenas, que mostram sempre os acontecimentos pacatos da comunidade. A ética do dono do jornal incomodava Tatum, que se mostra uma pessoa muito ambiciosa.
Quando Tatum deixa de cobrir a corrida de serpentes para fazer a matéria que ele acha ser a oportunidade da sua vida, nota-se que ele quer mostrar que ainda é capaz de se destacar no meio jornalístico. Ele transforma uma situação simples, em que um homem está preso dentro de uma montanha, em uma catástrofe. A partir daí começam as manipulações.
Tatum faz com que todos fiquem a seu favor, passando uma imagem de herói. Diz ao pai de Leo Minosa, que está soterrado, que irá salvá-lo. Seduz a esposa do homem, prometendo-lhe melhorias de vida e lucros em seu bar. Ela queria abandonar Leo naquela situação. Tatum também consegue trazer o xerife da cidade para o seu lado. Quando o circo está armado e pessoas de todo o país estão em volta da Montanha dos sete abutres, onde Leo está soterrado e os meios de comunicação querem as notícias guardadas com Tatum, ele resolve se aproveitar mais da situação. Vendo que tudo está a seu favor e que a prolongar aquela história seria bom para sua carreira, Tatum faz com que o resgate de Leo Minosa dure mais dias. O que ele não esperava é que a vítima morreria não resistiria e seu caso não teria um final feliz.
Muitos profissionais do meio jornalístico ainda pensam e agem como Tatum. Alguns ainda, assim como ele, deixam se ser jornalistas e se tornam notícia. Vemos muitos programas de televisão que são sensacionalistas e transformam o sofrimento dos outros em espetáculo para atrair o público. Os casos “Eloáh” e “Isabella Nardoni” são exemplos recentes da repercussão que o jornalismo pode dar ao caso. Muitos homicídios são cometido todos os dias, mas apenas aquele “escolhidos” pela mídia se tornam reconhecidos nacionalmente.
O filme mostra a responsabilidade que os jornalistas carregam nas costas, qualquer deslize, pode se tornar em fatalidade. Temos vários outros exemplos. O atentado de 11 de setembro à Torres Gêmeas, teve uma repercussão tão grande, que até hoje, 8 anos depois da tragédia, temos as cenas em nossa mente, como se tivesse acontecido ontem. O jornais do mundo todo mostraram números exorbitantes de mortos, acusaram facções terroristas e os Estados Unidos passou a ser o “o melhor país do mundo”. A mídia colocou todas as pessoas do mundo revoltadas e tristes. Não que o fato não tenha sido catastrófico, mas a mídia transformou tudo em um espetáculo.
O trabalho do jornalista não é brincadeira. Por isso temos que ter sempre em mente o que aprendemos sobre ética. Não temos o direito de passar por cima dos outros para nos destacar.
Mesmo sem a obrigatoriedade do diploma de Jornalismo, temos em nossa consciência que sairemos da Universidade como profissionais responsáveis, com o dever da ética. Em um momento do filme, Tatum pergunta ao seu assistente que acaba de se formar em Jornalismo: “ É isso que você aprendeu no curso?”. Tatum não se formou, mas exercia a profissão sem ter o diploma. Depois do filme fica uma pergunta: são profissionais como ele que queremos no mundo?
O cume dos inescrupulosos
Renata KascherO jornalismo como uma profissão responsável por informar a população deve ser exercido de forma ética e responsável. O filme A Montanha dos Sete abutres, mostra um tipo de jornalismo de espetáculo, onde o sensacionalismo é o que prevalece. Mostra a saga de um jornalista fracassado e corrupto capaz de tudo para ter seu emprego de volta.
Tatum sai da capital desempregado e vai para o interior procurar um furo de reportágem para voltar a ativa em sua carreira. Aproveitando de uma situação dramática de um homem soterrado dentro de uma montanha. Tatum vê nessa situação a grande chance de se tornar um jornalista, para ser lembrado por muitos anos.
Seu plano é de prolongar a retirada do homem e ficar no comando da situação. Para seu plano dar certo ele teve que subornar as pessoas a sua volta. Juntam a ele seis abutres, pessoas inescupulosas e ambiciosas que querem fama, reconhecimento e dinheiro.
Tatum não contava que seu plano fosse tão longe e tomasse proporções alarmantes, pessoas foram se aglomerando na pequena cidade para ficar perto do drama. Um verdadeiro circo foi armado, pessoas começam a fazer um verdadeiro comércio ambulante no local, um verdadeiro espetaculo.
A notícia ganhou tamanha proporção que não pode ser revertida. O homem vítima de toda essa armação, com a finalidade de ser manchete contínua, não suportou e morreu.
A ambição de um ex-jornalista fracassado que usou de métodos antiéticos fazendo de tudo para estampar novamente as capas de jornais com suas matérias, levou um homem a morte. Monopolizou a notícia fazendo papel de assessor da família, para ficar perto de todas as informações, e foi o próprio repórter, transmitindo todas as notícias ao público.
Por fim o ex-jornalista tentou vender seu peixe para voltar a exercer a profissão, mas ninguém lhe deu ouvidos. Depois de levar uma tesourada da mulher da vítima que participou de todas suas armações, morreu tentando falar a todos que o pior dos sete abutres não tinha uma bela notícia e sim, que ELE era a própria notícia.
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Há alguns anos que vem sendo destacado os vínculos simbólicos do jornalismo no Cinema.E no filme de 1950, em A Montanha dos Sete Abutres,narra a história de um Jornalista(Tatum).Que no Jornal onde trabalha não consegue boas matérias.
Enviado por seu editor para fazer matérias sobre caça a cascavéis, descobre em uma pequena cidade, a notícia de um homem (Leo) que esta preso em uma mina.
Tatum teve oportunidade de transformar o caso em um grande acontecimento.
Com exclusividades das notícias, Tatum usa o problema para chamar atenção do público, pois poderia ser o furo de sua vida, e com todas notícias monopolizada por ele, tenta convencer autoridades para atrasar o resgate, manipula a esposa de Leo para que ela não o abandone.
O filme é um excelente exemplo de como o público é abordado, e e de muitas vezes a falta de ética e da veracidade na notícia dos profissionais.
Despois da morte de Leo, Tatum tenta reverter a história, mas já é tarde, e demonstra o que muitos Jornalistas buscam, o reconhecimento do seu trabalho. (CAMILA MORAIS ALMEIDA)
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A manipulação jornalística (FELIPE BORGES)
O filme lançado em 1951 traça parâmetros de uma realidade jornalística usada frequentemente por vários profissionais. O sensacionalismo retratado no filme usa a ambição e ascensão de um jornalista que até então estava com a carreira totalmente fracassada.
Atualmente, usa-se o mesmo sensacionalismo barato para agregar o maior número de pessoas para obter o maior número de audiência local e porque não dizer mundial.
A manipulação feita nos personagens dessa ‘matéria jornalística’ nos faz refletir como futuros profissionais, a questão da ética na profissão e também na queda do diploma.
Jornalistas não preparados, sem formação, estrutura e embasamento teórico são capazes de informar com a mesma qualidade e veracidade de fatos de grandes proporções ? Até que ponto podemos arriscar a vida de uma pessoa para obtermos reconhecimento social ?
Cabe a nós mantermos uma postura correta, diante destes furos jornalísticos e agir de modo que a vida não seja ameaçada pela mídia. O que pode ser uma grande reportagem pode se transformar numa tragédia.
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O contraste do passado com o presenteÉ notável a presença do roteiro do filme A montanha dos Sete Abutres, de 1950, dirigido por Billy Wilder nos dias atuais.
Percebe-se de maneira expressiva nos veículos de mídia, a exploração da imagem e dos acontecimentos fazendo deles um verdadeiro "espetáculo".
Onde o maior prejudicado é o cidadão que necessita de notícias e informações com conteúdo verdadeiro.
Mas, infelizmente existem veículos sensacionalistas, que para manter-se no mercado procuram maneiras de "fisgar" uma notícia para que ela ganhe espaço na mídia, sendo esta que pode ser totalmente falsa.
Exemplos de acontecimentos e fatos que viraram notícia nacional nos últimos tempos são vários.
Entre eles, o caso da menina Isabela Nardoni e o sequestro de Eloá se coincidem muito com a "mega notícia" criada em volta do personagem Leo pelo repórter Tatum do filme A montanha dos Sete Abutres.
Acontecimentos e fatos que poderiam durar apenas alguns minutos na mídia ou até horas, tornam-se uma verdadeira novela da vida real.
A exploração da imagem é o foco dos veículos que presam por uma notícia que possa parecer no início normal e comum e tende a se tranformar em uma trajédia de repercussão nacional, já que nos dias de hoje no Brasil é comum ser assaltado ou até ser sequestrado.
Por incrível que pareça, as cenas do filme que fora rodado há mais de 50 anos, se igualam muito com a realidade atual.
Cabe a nós futuros jornalistas, formadores de opinião, presar pela ética e moral para que a mesma coincidência infeliz não ocorra daqui a algumas décadas.
Por Fúlvio Stéfany
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O espetáculo vende